Como Criar Tirinhas: Ideias, Piadas e Brainstorms

Olá, eu sou o Jrol Lima, ilustrador e criador do Dobradinha Comics e hoje vou ensinar você a ter ideias boas e frequentes para criar tirinhas!

Ok, o básico e comum você já deve ter ouvido em todo lugar. Você precisa ler bastante, ter contato frequente com o conteúdo que publica… E ter inspiração. Isso é o que provavelmente a maioria dos cartunistas e outros profissionais vão dizer para você, contudo eu vou destrinchar o que é uma piada para você entender melhor sua estrutura e saber como criar mais facilmente as suas.

ANATOMIA DE UMA PIADA!

Como funciona uma piada?
Uma piada é uma mudança repentina e inesperada em algum evento, situação ou diálogos. Essa súbita mudança no roteiro precisa ser coerente, ou seja, ele precisa trazer para o leitor uma situação inédita, contudo crível e plausível. Isso quer dizer que eu não posso contar uma piada em que fui assaltado pelo motivo da minha bicicleta ser azul, pois realmente não há ligação alguma entre as informações. Você precisa criar aquela sensação de “I see what you did there”.
E como fazer isso?


BRAINSTORM!

Palavrinha legal para colocar no filho, né?
Brainstorm é uma atividade desenvolvida para explorar a criatividade e a geração de ideias. O conceito é bem simples: você apresenta um tema, uma pauta ou problema e em seguida diz exatamente TUDO que acha que há relação com isso. Tudo mesmo, sem medo.
Pegando essa atividade para tirinhas, vamos dizer que você quer fazer uma tirinha sobre vampiros (inclusive eu fiz uma usando essa técnica). Então em uma folha de papel, você escreve TUDO que sabe sobre vampiros. Escreva todas as coisas clássicas, todas as lendas comuns, todas as situações previsíveis, todos os pontos fortes e fracos… Tudo!
Depois disso, você irá analisar quais ideias são mais “fortes” para você. Quais você se sente mais confortável para interagir, seja por familiaridade ou por você ter uma maior fonte de informações sobre ela. Daí você tentará ver todas as situações previsíveis sobre esses itens e fará um novo brainstorm com essas ideias.
A intenção é conectar crivelmente o seu tema com um final inesperado.
Com o tempo, você fará brainstorms de maneira automática e você perceberá que precisa anotar esses pensamentos em um:

CADERNO DE IDEIAS!

Existe coisa mais clichê que desenhar uma lâmpada para simbolizar ideia?
Quando eu digo Caderno de Ideias você não precisa ser literal e comprar mesmo um caderno (embora seja legal ter um). Pode ser um bloco de notas, um app no tablet, computador, smartphone, laptop… Qualquer coisa dessas, mas é importante uma coisa: que ele seja o mesmo sempre!
O que eu quero dizer com isso é que você não deve anotar suas ideias em guardanapos ou folhas avulsas. Lembre-se que a qualquer momento você pode ter uma sacada incrível que tornará aquela sua ideia legalzinha que tava lá encalhada no seu caderno em uma piada impressionante, então para isso, você precisa ter contato regular a essas anotações.
Seu caderno de ideias otimiza seu processo criativo, além de organizar melhor todos seus pensamentos. Isso evita aquele velho lance de você ter tido uma ideia genial e revira sua casa inteira e todos seus gadgets procurando onde você a anotou.
Agora que você já entendeu mais ou menos como funciona o processo criativo, é hora de entender como descrevê-lo no papel e para isso você precisa pensar no:

ROTEIRO!

Roteiro: A gente vê por aqui!
Nem venha começar a reclamar, você precisa SIM escrever um roteiro para suas tirinhas, mesmo que você o mude um pouco durante o desenho, porém aí você me pergunta “se eu já sei como é a piada, pra que diabos eu preciso escrever esse roteiro?” e a resposta é relativamente complexa.
O roteiro serve para você visualizar melhor a webcomic antes dela ser produzida, sem contar que ele mostra como é a interação dos personagens envolvidos, descrição dos acontecimentos, fluxo de narrativa e número de quadros. O roteiro também serve para você não esquecer de nada do que será desenhado, principalmente se você não for desenhar no mesmo dia em que teve a ideia.
Não precisa ser um roteiro elaborado… Ele pode ter o mínimo de informações possíveis, contudo precisa ser preciso, explicativo e completo o suficiente para você entender a tirinha mesmo depois de semanas ou meses após ter tido a ideia dela.
Meus roteiros são bem básicos: eu escrevo como é a cena (quando essa é importante) e defino quem são os personagens e seus diálogos. Ali também, costumo imaginar e anotar quantos quadros prevejo, embora eu goste mais de fazer quadros únicos.
O roteiro serve também para preparar sua mente para visualização do que você quer desenhar, por isso que é nessa parte que você cogita em quantos quadros vai utilizar, posicionamento dos personagens, dos balões de diálogo e o formato da tira (se é vertical ou horizontal). Ele servirá para você como um manual para seu desenho.
Depois disso tudo, é hora de pensar em mais um passo:

NARRATIVA!

Como que a piada deve ser contada?
Na verdade, ela ainda tá fazendo parte do roteiro, contudo a narrativa deve ser considerada como elemento separado, pois é nela que você define a melhor maneira de contar sua história e isso é extremamente importante.
Nela você definirá como causar maior impacto para o leitor, como estender ou encurtar sua piada para um melhor fluxo. No fim, a narrativa nada mais é que a otimização do roteiro e desenho, fazendo você maximizar os resultados.
Veja se a maneira que você escolheu para contar sua história não entrega a piada antes que você queira. Talvez criar vários quadros amente as falas e faz a pessoa perceber qual a situação cômica você quer apontar, no entanto quando você encurta demais a narrativa, talvez o leitor se sinta não ambientado o suficiente para achar a piada engraçada. Você precisa levar-se sempre no meio termo do longo e curto e explicativo o suficiente para a pessoa entender e curto o suficiente para ela não passar muito tempo lendo a tirinha… Por isso mesmo evite diálogos grandes ou muitos quadros. Eu considero bom um número de 6 quadros no máximo para tirinhas, mas no fim, a melhor dica que eu posso dar para você é:

NÃO TRATE SEU LEITOR COMO IDIOTA!

Esse cara tem cara de idiota, gay ou de quem soltou gases tóxicos na atmosfera?
Claro que existe muita gente idiota na internet, mas nem por isso você precisa tratar as pessoas que lêem suas tirinhas dessa maneira. Aliais, você nem deveria desejar que pessoas idiotas lessem suas tirinhas. Já existe conteúdo burro e superficial demais por aí, então tente fazer seu trabalho o mais inteligente e perfeccionista que você consegue. Use seu humor, sua inteligência para criar o melhor que você consegue.
Mas você ainda precisa saber de algo muito precioso:

VOCÊ TEM SIM UM RECANTO DE CRIATIVIDADE!

Esse sou eu... Vulgar sem ser sexy!
Recanto de Criatividade é quase um refúgio, um local seguro onde suas ideias fluem melhor. Acredite em mim, você tem um! Ele é um lugar onde você se sente confortável e em paz. Também é um lugar onde você relaxa e esvazia sua mente ao ponto de nenhum outro pensamento, além daqueles que você realmente quer, entra na sua mente.
O meu recanto da criatividade é o banho. É um momento em que minha mente se esvazia e eu posso pensa com clareza nas minhas tirinhas.
Pense bem: onde você se sente mais confortável? Qual o lugar mais pacífico do mundo pra você? Em que lugar você consegue se esquecer brevemente dos seus problemas ou da sua vida? Qual lugar você consegue analisar com clareza seu dia?
Seu recanto de criatividade funciona como um organizador e seletor das melhores ideias que você teve. É local onde você terá acesso ao seu senso crítico e criativo simultaneamente.

Agora… Que tal uma demonstração prática disso tudo que eu expliquei?

Essas tirinhas dão muito trabalho, mas eu gosto demais de fazê-las.
Na minha nova série de tirinhas chamada Manual do Herói eu crio um livro de regras que todo herói deve seguir. Logo na primeira tirinha eu fiz um brainstorm para desenvolver a piada (que eu não fazia a minima ideia de como seria) e um pequeno roteiro de como a tira seria narrada.
Fiz também um rascunho de como seria o personagem principal
Após me perguntar o que um herói fazia, eu descrevi três itens clássicos vistos nele.
Eu não segui com mais ideias, pois com apenas essas três eu imaginei que conseguiria algo.
Para fins de encurtar esse post, eu mostrarei apenas a seleção de ideias possíveis que fiz com uma das escolhas: Salvar donzelas.
Gravar em disco? Vai pra casa, Jrol... Você tá bêbado!
Com a ajuda de um dicionário vi as possíveis definições para “salvar” e “donzela”. Após isso, movi para aplicá-las em frases. Isso me permitiu visualizar melhor como eu poderia tornar a situação menos previsível.
Virgens em algum aspecto, se é que você me entende ^^
Após eliminar a opção “salvar solteira, virgem e bela mulher”, pois achei que poderia usá-la em outra tira não relacionada a donzela eu começo a inverter situações, brincando com significados e com a previsibilidade das situações. Nesse momento percebi que usar a opção “salvar bela mulher” tinha um potencial maior.
Problemática é uma palavra bonita, né? Será o nome da minha filha!
Na problemática eu questiono quais as dificuldades eu teria com cada uma das minhas opções. A que se sair melhor nas minhas dúvidas será a situação eleita para minha tirinha.
Lembra que falei que o roteiro não precisa ser elaborado?
Agora eu escrevo o roteiro pegando a ideia vencedora. Vou confessar que gostei mais do lance do herói gay, porém na minha mente havia um problema com aquilo. Se eu considerasse que ele salvasse o cara eu deveria ter dois personagens fixos na história e eu não queria isso. Eu queria a história ser focada apenas no herói e de vez em quando aparecer um personagem regular.
No roteiro crio uma situação simples, descrevo quadros e diálogos. Dividi em dois quadros pois achei que teria um impacto maior para piada se a resposta dele viesse em um local separado.

Bom… Por hoje é só.
Semana que vem eu falarei apenas sobre desenhos e cores. Acho que será um post gigante (como esse também foi)!

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